Mais uma prova da filosofia nihilista das redes de terrorismo islâmico, é pura e simplesmente o terror pelo terror, repete-se a receita: o objectivo eram as audiências (a televisão ajuda sempre) e a oportunidade de aterrorizar o mundo (muito para além da mortandade do momento), tendo como meros instrumentos as vítimas da ocasião, embora não seja de descartar a oportunidade de se atingirem as nacionalidades que mais caracterizam os infiéis, numa demonstração de poder que nem a morte consegue deter.
É curioso verificar que, ao contrário do que acontecia há décadas atrás, os objectivos deixaram de ser as embaixadas transferindo-se os alvos para os hotéis de luxo, símbolo do odiado capitalismo ocidental; há claramente ligação, quanto à concepção, entre o anterior atentado no Marriot Hotel no Paquistão e os atentados de Bombaim, locais essencialmente frequentados por ocidentais.
Os mais de 100 milhões de muçulmanos na Índia possibilitam, não só face à proximidade com o Paquistão, a disseminação de redes extremistas dificilmente controláveis, mas também devido aos apoios que a Arábia Saudita dá à comunidade muçulmana, subsidiando madrassas que assentam os seus estudos em radicalismos e na violência contra os que diferem do islamismo.
Por aqui passará parte do problema tendo em conta a recente cooperação entre os EUA e a Índia, visível entre outras coisas na cooperação entre os serviços de intelligence na luta conta a Al-Qaeda no Afeganistão, algo que não é propriamente do agrado dos grupos extremistas.
A este propósito o prémio Nobel da Literatura, o indiano V. S. Naipaul, em entrevista publicada recentemente pelo "Público", falava da harmonia entre as diferentes religiões no seu país como característica civilizacional a preservar, mas mostrando receio pela atitude da Arábia Saudita, classificando-a como "país mau", pela forma como financia movimentos muito próximos do radicalismo islâmico naquele país, brutalmente influenciados pelo "wahhabismo", passível de por em causa o ecumenismo no país.
Apenas mais uma pequena nota, para além da questão do hotéis de luxo como alvos privilegiados, a debilidade no controlo nas fronteiras marítimas, precisamente por onde entraram os terroristas, deve merecer a atenção dos países face às inúmeras oportunidades que oferecem a este tipo de organizações, e se hoje em dia temos um sistema bastante bem conseguido ao nível das fronteiras aéreas, situação que se estende com medidas compensatórias às fronteiras terrestres, o controlo e fiscalização das fronteiras marítimas deverá merecer um profunda reflexão da nossa parte.
Por coincidência vi ontem o filme "Body of lies" em que se retratam problemas muito próximos da infeliz realidade com que somos confrontados a partir do subcontinente indiano, amanhã abordarei o tema mas numa perspectiva que diferencia a actuação do pessoal do "back office" (analistas) e os operacionais.