domingo, 7 de dezembro de 2008

Quintal do Semba: Angola

Faltava cá chegarmos. Luanda ponto de chegada e de partida onde deambulei pela Maianga, no enesquecível Colégio Universal, Mutamba, Coqueiros, Marginal e a belíssima Ilha, sem esquecer o mítico "Chá das Seis" no antigo Cinema Restauração, matiné imperdível para quem como eu estava como interno no Colégio , no "Pensionato Universal", lá para as bandas da Corimba, junto à praia.
Razões suficientes para o enamoramento e a perdição pela magia destes lugares, do cheirnho a terra molhada depois ds fortes bátegas da chuva tropical, local de mestiçagem privilegiado que pode muito bem estar na base do "semba" dos nossos dias, realidade sociológica muito do agrado dos kamundongos, com a rebeldia à flôr da pele e que ainda hoje é uma característica do tecido social urbano de Luanda, tendo como pano de fundo a rede de muceques que envolve a cidade e permite o desenvolvimento de sons e ritmos que caracterizam hoje em dia a música de Angola.





A propósito do samba, e a sua importância no Brasil, Vinicius dizia que "o samba se hoje é branco na poesia, na Baía ele é negro demais no coração", precisamente um dos locais para onde partiram muitos dos escravos de Angola para o Brasil. Estava lançada a ponte, espalha-se o semba como som essencial de muitas kizombas,termo hoje adulterado e aproveitado para expressões de dança que quanto à sua forma nada tem a haver com estilo do luandense."Apimbalhou-se" música pretensamente próxima do semba com a utilização, também ela exagerada, da batida do zouk originário das Caraíbas.
Nada disto impede de sobreviver a melhor música com gente mais próxima das origens e que sabe fazer, e de que maneira, o retrato social a partir do semba, veja-se: dos N'Gola Ritmos, de Liceu Vieira Dias, até Paulo Flores; Carlitos Vieira Dias e Burity, passando pelo "cotas" Bonga (ainda que muitos dos seus recentes trabalhos tenham descambado, mas é uma referência desde o álbum Angola 72) e Rui Mingas (com um trabalho recente) e muita gente nova, que emergiu da Luanda sobrevivente da guerra e mantêm um certo espírito elitista do circuito da capital, no bom sentido, afastando influências de música "malaika" e que à semelhança de outros espaços, devido à imensa pressão comercial, sofre daquilo em que Portugal se definiu por música "pimba", curiosamente um termo inventado por um angolano de origem, se não me engano, Paulo Salvador, jornalista da TVI.

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